Para quebrar a rotina, eu considerei a possibilidade de abrir um espaço aqui no blog, para que os amigos pudessem confessar os seus desejos musicais
“inconfessáveis” e esta ideia surgiu em uma linha de comentários, lá na
alcateia do velho
Dead, o blog
SOM MUTANTE, pela iniciativa da
Lucy, uma frequentadora de longa data daquela casa, que fez uma provocação a respeito deste tema e para meu espanto, a turma toda
“soltou a franga”, inclusive eu, portanto, nada mais justo, que abrimos esta seção com os
“Guilty Pleasures" da
Lucy, na íntegra e desde já convido a quem mais quiser confessar seus
“Guilty Pleasures" aqui neste ou em outro
"blog irmão"........
ALGUÉM SE HABILITA????by Gustavo
"GUILTY PLEASURES" - By Lucy Jones
Esta é uma postagem especial e de ocasião. É uma pincelada sobre um papo bem-humorado que rolou dia desses ao redor da fogueira na alcateia. Aos habituais frequentadores deste boteco e falantes pelos cotovelantes de ambas as casas, em especial ao Gustavo, só posso dizer obrigada, espero que gostem e se divirtam!
A música é pouco.
Um brinde à surpresa de novos sabores e amizades "Conta Comigo". :)
Inconfessável?
Arroz, feijão, farofa e ovo frito, tudo junto e misturado. Confesso, é meu prazer secreto à mesa.
Não adianta negar: todo mundo tem um prazer inconfessável assim...
Por mais que seja bom aquele suculento corte que derrete na boca, não dá pra viver só de salmão e filé mignon, porque até o que é bom cai na monotonia do paladar. Sem falar que te priva da surpresa de novos sabores. E nesse meu prazer à mesa, que era secreto, se tiver toucinho no feijão, então, é o nirvana! E banana de sobremesa, por favor. rs
Mas quantas pessoas podem dividir essa mesa comigo? Ah, bom, só as mais próximas. Não pode ser qualquer estranho pra achar que eu preciso de um banho de gastronomia na Champs-Élysées. Been there, done that. E deixei uma alcachofra inteira no prato! Fazer o quê? É clássico, é fino, mas meu paladar rejeita.
Quer saber? Bom mesmo é transitar sem a menor culpa da banana ao crème brûlée, da zona Leste ao 8º arrondissement, do sublime ao puramente divertido.
Da mesa à vitrola
Penso que é assim também com a música. E os blogs podem ser um retrato engraçado disso. Uns elogiando as alcachofras que, na verdade, não gostam, mas como é irretocável, não pode falar que não gosta. Outros se dando por felizes na monotonia dos clássicos (dos outros), pra depois chegar em casa e pôr na vitrola o seu arroz com feijão, farofa e ovo ou ficar na fissura por uma novidade. E há os que se refugiam na segurança do "gosto de tudo", os famosos ecléticos, que agradam todo mundo e não enganam ninguém.
Trânsito livre, sem inibições, quase ninguém se permite.
Pois bem. Dia desses estava eu ao redor da fogueira, jogando conversa dentro na alcateia, satisfeita depois de ter me deliciado com um discão -- por acaso, uma fina flor do prog --, quando comecei a ter uns pensamentos que correm pela tangente.
Não sei se exagerei nos marshmallows, muito açúcar correndo nas veias, ou se alguém me deu um Cabernet com água tônica falando que era Fanta Uva. Só sei que, lá pelas tantas, pensei comigo: "Eu vou 'sacanear' esses marmanjos todos"... rs
E como quem não quer nada, muito inocente, joguei um Billy Idol na roda, lembrando dos tempos de MTV ligada depois da escola. Me acabava com "Rebel Yell". Depois tinha que catar os cadernos debaixo da cama, pra onde eu tinha chutado todos, dançando como a gente dança só quando ninguém tá olhando. :)
E relembrando essas coisas, umbiguei os marmanjos com meu dedinho inquieto pra eles me contarem seus gostos musicais inconfessáveis, seus "
guilty pleasures", por assim dizer, aqueles discos que eles gostam, mas não contam pra ninguém ou só escutam quando ninguém tá por perto.
Pra quê... rs
Carlos, The Ancient, levantou na hora e me trouxe um baú inteiro. Só relíquia! rs Coisas que, facilmente, qualquer sumo sacerdote da blogosfera diria serem de gosto duvidoso -- o que significa dizer "que horror, tchau". Mas meus olhinhos... Meus olhinhos bri-lha-ram.
Carlos, que ansiosamente aguarda eu ouvir as discografias do Yes e do Sabbath pra eu merecer minha carteirinha de "iniciante iniciada", admitindo que tem um pé na era disco? Ah, mentira... E não só isso! Não era qualquer disco. Não era "Priscila, Rainha do Deserto" disco... Mas isso foi só a ponta do iceberg explosivo que é este... Moço. rs
Não sei se pela respeitabilidade e confiança que os mais anciãos naturalmente ensejam ou se por outro motivo, fato é que mais gente ao redor da fogueira se animou. A saber: Ricardo, que trouxe o disco fina flor a que me referi no início; jcarlosgv, frequentador atento, como eu; e Gustavo, sim, o homem do Ondas, ele mesmo.
Aliás, o
Gustavo foi o primeiro a se manifestar, oferecendo o espaço (depois de eu lançar um pequeno desafio, claro) pra que a
queimação de marshmallows na
alcateia virasse uma postagem aqui no boteco, esta que você está lendo.
Um gesto para o qual eu tiro o chapéu por mais de um motivo. Se alguém duvidava que ele foi convenientemente diplomático comigo antes, eis a prova de que ele é bem maior que um protocolo chinfrin pra inglês ver.
E, assim, não só eles todos me proporcionaram uma noite das mais divertidas e memoráveis na veterana alcateia, como também me fizeram saber que onde batem corações rasgados de amores por rock progressivo, também cabem new wave e as sinfonias-minuto de um bom spaghetti western com bastante molho de pólvora. Ah, e o glitter, é claro... rs
Foram muitos os nomes citados, e também teve muita coisa da telinha e da telona, indo até bem lá longe no tempo, um verdadeiro regresso à infância. Por motivos óbvios, esta é apenas uma singela amostra.
Velho Oeste e brilhantina
Abrimos com dois momentos de cinema, duas trilhas sonoras. A primeira é do espaguetão
"Por um Punhado de Dólares", da chamada Trilogia do Dólar, os mais conhecidos dentre os western de baixo orçamento que fizeram a fama do
Sergio Leone -- e sem os quais
Clint Eastwood provavelmente nem teria empunhado sua Magnum 44.
A trilha é do Ennio Morricone, que, sem a grana ao seu dispor pra fazer um trabalho com grande orquestra, chamou um amigo de infância, usou uma Fender e vários efeitos com apitos, relógios e simplicidades corriqueiras assim. O resto é história.
Eu muito me lembrava destes filmes... Cinema da década de 60 no Corujão. :) Curiosidade: diz a Wikipedia que o Leone gostou tanto que alongou muitas cenas por causa da música do Morricone.
"Por um Punhado de Dólares"
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A segunda trilha é do filme
"A Gangue da Pesada", e tem várias daquelas bandas que começam com "The". Não tô falando nem de Beatles, nem de Stones, mas de um outro lado dos anos 60. Uma parada mais nostálgica e ingênua, quase que um farewell aos dourados anos 50. Tem várias músicas aqui que me fazem pular até hoje simplesmente porque são risonhas, ensolaradas e divertidas.
E tem também uma faixa especial, com um tremendo sabor de infância, que qualquer um que assistiu "Conta Comigo" vai sacar na hora e ligar os pontinhos. Essa vai com dedicatória, from me to you -- "you" no singular e no plural. :)
"A Gangue da Pesada"
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Aquele glitter dos 70
Confesso: toda vez que vejo compilações disco com aquelas capas medonhas por R$ 9,99, tenho calafrios. Essas músicas continuam absurdamente vendáveis, e enquanto houver festa no mundo,
"freak out, le freak, c'est chic" será um refrão imortal e
Gloria Gaynor will survive para todo o sempre.
Mas tem muito mais coisa na era disco dos 70 que não tem a mesma visibilidade, mas nem por isso caiu no esquecimento. Umas tocam até hoje, mesmo que a gente não ligue o nome à pessoa. É o caso de um nome obscuro que me chamou atenção lá na conversa ao pé da fogueira: "A Verdadeira Conexão de Andrea".
O que seria isso? Parece até código, coisa de diálogo de filme de agente secreto. Posso até ver um jovem Michael Cane dublado, dizendo assim: "Todo cuidado é pouco. Precisamos descobrir qual é a verdadeira conexão de Andrea"... Oi? rs
Essa moça é um achado. The Andrea True Connection debutou pedindo "More, more, more" e chegou toda diáfana, coberta dos pés à cabeça na capa, diretamente da mais infame das ribaltas no mundo do entretenimento: a indústria de filmes 4dultos.
As circunstâncias da feitura desse disco são muito interessantes. Diz a Wikipedia que ela foi fazer um comercial na Jamaica, quando uma crise política impediu que qualquer um deixasse a ilha com somas de dinheiro, isso em 1975.
Imagina que você tá na Jamaica, acabou de receber uma grana de trabalho, e tem que gastar, senão não pode ir embora. O que você faz com grana na Jamaica, de todos os lugares do planeta, na Ja-mai-ca? Como ela não pensou nas mundialmente famosas plantações de abacaxi?
Pois ela ligou pra um amigo produtor, explicou a situação, ele voou pra ilha, e assim ela gastou aquela grana gravando o seu primeiro disco ali mesmo. Óbvio que tinha um desejo musical latente ali. E ela, na primeira adversidade, enxergou uma oportunidade para realizá-lo.
"Eu quero ser lembrada pelo prazer que proporcionei às pessoas com a minha música", disse Andrea já quase sessentona, em especial pro VH1, um dentre tantos. Não tenho dúvidas, Andrea: feito! rs
The Andrea True Connection -"More, more, more"
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Outros nomes da era disco vira e mexe voltam como clássicos cult. Pergunta pro Tarantino. É o caso do Santa Esmeralda, revitalizado em "Kill Bill Vol. 1". E não foi só com "Don't let me be misunderstood" que eles acertaram em cheio.
Mas o interessante dessa música em particular é o ineditismo que ela guarda, não só pela pegada dançante e sensual com ritmos latinos e flamenco, mas pela façanha de ter dado certo. Os caras enxergaram o potencial pista de dança, com uma letra cheia de conotações políticas do movimento de direitos civis, e conseguiram realizar esse potencial.
Tão bem o fizeram em 1977 que, dentre tantos artistas que gravaram depois, sem esquecer
Nina Simone e
The Animals, os primeiros a gravá-la nos anos 60, é essa versão do
Santa Esmeralda que mais resiste às décadas e permanece como uma das mais lembradas.
Esse disco tem também uma pvta surpresa. Um dos melhores covers de um classicão que a maioria conhece na versão do The Doors.
Santa Esmeralda - "Don't let me be misunderstood"
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Invasão britânica na MTV
Não conte comigo pra arrastar a década de 80 pela sarjeta, e por um motivo muito simples: eu fui adolescente nela. E se tava todo mundo com uma ressaca brutal, eu tava fresquinha no mundo. E me diverti horrores, mesmo com Reagan, Guerra Fria, o stress do overnight na sala de jantar e aquele drama épico da nossa reabertura política.
Se eu tivesse tido a chance de prestar atenção ao Billy Idol quando ele começou, e não só muito depois na (nossa) MTV, é muito provável que eu hoje tivesse discos dele. Mas... Nunca é tarde. rs Fato é que eu gostei de descobrir que tem mais nesse "Rebel Yell" do que a música que dá nome ao disco.
Mesmo sendo mais lembrado como um poster boy com suas caras e bocas, o Billy salvou uns riffs maneiros no meio do pop-rock insosso. Grrrroan!
Billy Idol - "Rebel Yell"
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De um extremo ao outro do Tâmisa, e do palco, o Duran Duran tinha não só mais airplay no rádio, mas também tava em todas as revistas -- lembrando que a gente não tinha MTV. E não tô falando só das revistas nacionais, eu comprava a Bravo sem falar um "oi" em alemão. Me virava do avesso, mas dava um jeito!
As revistas, ainda mais as que vinham de fora, eram o canal visual por excelência de acesso ao cinema e à música. E o marketing das gravadoras, óbvio, deitou e rolou em cima disso. "Nesta edição: dicas de moda e maquiagem. Grátis: um pôster do Duran Duran"! rs
O primeiro disco que eu comprei foi o "Arena", que eu toquei até gastar. E é essa mesmo a época áurea dos caras, no auge da Duranmania. Mas a discografia, que se estende ao longo de décadas com fases distintas, é quase vazia de registros ao vivo. Tanto é que, com exceção do "Arena", essas gravações estavam todas nas mãos dos fãs, no troca-troca dos bootlegs.
Esta é uma delas, mas embrulhadinha em box $et com trocentos mil anos de atraso. É o áudio do DVD, com as mesmas músicas do CD, show em uma das casas mais famosas de Londres. "Girls on film" ao vivo, com aquela entradinha ao som de flashes? Insubstituível. rs
Duran Duran - "Hammersmith '82!"
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http://www18.zippyshare.com/v/53325973/file.htmlby Lucy Jones
"Por um Punhado de Dólares"
"A Gangue da Pesada"
The Andrea True Connection -"More, more, more"
Santa Esmeralda - "Don't let me be misunderstood"
Billy Idol - "Rebel Yell"
Duran Duran - "Hammersmith '82!"