A segunda geração do rock progressivo surgiu na década de oitenta e provavelmente seu surgimento tenha sido o responsável para que bandas da primeira geração tenham permanecido com certa dignidade no caos formado pelo nascimento do movimento Punk no final dos anos setenta na Inglaterra.
Sem dúvidas essa segunda geração fez eclodir nomes como Pendragon, Marillion, Pallas, IQ, Glass Hammer e algumas outras que souberam driblar a nova ordem musical que tinha como objetivo ser “insubordinada”, “rebelde” e “contra tudo”, portanto, mais fácil de ser digerida e também esquecida, pois seu conteúdo básico flertava muito próximo com o “nada absoluto”, mas as bandas setentistas, principalmente as representantes rock progressivo por alguma razão, sofreram muito com este novo direcionamento musical e fatalmente entraram em crise.
De um momento para o outro, a orientação era para simplificar tudo, então, letra e música sofisticada nem pensar e neste ponto talvez, depois anos a fio, elaborando intrincados enredos e arranjos viajantes, ficava muito difícil dar forma e alma a uma música que nada iria dizer, que não empolgaria e muito menos encantaria a quem estava habituado com muita pompa e circunstância.
Isso atingiu a todos sem exceção, foi um holocausto musical e se olharmos para trás e analisarmos o que foi feito na década de oitenta por bandas como o Yes, Genesis, ELP, Camel, Focus, Jethro Tull, PFM, Pink Floyd e tantas outras bandas de mesmo porte, o cenário é muito triste e desolador.
Na década de oitenta, o Yes produziu os álbuns, “Drama” que é até um bom trabalho, mas fica há anos luz dos álbuns anteriores; o "90125", feito especialmente para atender às rádios FM’s; o “Big Generator” muito fraco por natureza e o ABWH, que deu uma luz no final do túnel para a banda.
Com o Genesis, o negócio foi ainda mais feio, pois sem Peter Gabriel que parece que estava adivinhando o que ia acontecer com banda, tomou outro rumo e saiu fora, o mesmo aconteceu com Steve Hackett que uns dois anos após, pegou suas guitarras e também se mandou, portanto o Genesis adentrou nos anos oitenta, desfalcado de suas melhores cabeças pensantes e o resultado, foram os álbuns, “Duke”, “Abacab”, “Genesis” e “Invisible Touch”, em meu conceito todos muito fracos.
Eu poderia continuar com essa linha de raciocínio e incluir mais bandas, mas acho que ficaria muito longo e chato, pois essa conversa toda foi apenas para introduzir o álbum, “So Here We Are Once More” que uma apresentação da integra de “Script For a Jester's Tear”, lançado em 1983, do Marillion, com seus B’sides inclusos e com a música “Assassing” que seria lançada apenas no álbum “Fugazi” em 1984.
Essa embromação toda foi apenas para pontuar a coragem do Marillion em lançar um álbum altamente conceitual, rico musicalmente e nada comercial, contrariando os interesses comerciais de gravadoras, rádios e de até um grande público acéfalo que com certeza não entendeu nada deste álbum, mas por outro lado, foi a redenção para outro grande público, ávido por música com um mínimo de qualidade e que foi surpreendido na época de seu lançamento por um trabalho de altíssimo nível e que hoje sem dúvidas tornou-se um clássico.
É comum escutar ou ler que o Marillion e que principalmente Fish, imitam o trabalho do Genesis e de Peter Gabriel respectivamente, mas que seja, pois pelo menos eles dão prova de que tem bom gosto e inteligência em ter escolhido o Genesis como uma fonte de inspiração, mas na realidade, fora o fato de Fish gostar de se maquiar e teatralizar sua voz nas músicas, assim como Peter Gabriel o fez em sua época, o Marillion como um todo tem muita personalidade e identidade própria.
Analisando músicas épicas como as suítes, “Grendel” ou “Forgotten Sons”, não há nada do Genesis nelas, mas todo o conceito e essência do rock progressivo dos anos setenta nela estão contidos, de uma forma mais moderna e que não agrediu aos velhos e também aos novos ouvidos que possuem uma quantidade mínima de neurônios.
As músicas, “He Knows You Know”; “Garden Party”; “The Web” e “Charting The Single" que são mais simples, carregam em seu DNA toda uma linhagem e linguagem tipicamente progressivas em poucos minutos de duração que facilmente são compreendidas por quem tem familiaridade com este tipo de música.
Quando chega a vez de “Script For a Jester's Tear”, lá encontramos o “Teatro Genesiano" em sua essência, com todo o seu lirismo e poesia, personificados na potente e bela voz de Fish, que com seu talento nos faz mais próximo de tudo aquilo que amamos.
O Marillion tem como seu maior patrimônio, seus músicos, pois todos sem exceção são exímios instrumentistas que nos brindaram com álbuns antológicos dentro da era Fish, que prematuramente abandonou o grupo e saiu em carreira solo.
Relativo a este bootleg que está com o áudio perfeito, uma vez que foi extraído diretamente da mesa de gravação de uma rádio FM , eu apenas estranhei que Mick Pointer que aparece nos créditos de “Script For a Jester's Tear”, não apareceu nos créditos deste trabalho como o baterista e em seu lugar entraram John Martyr na bateria e Andy Ward (Camel) na percussão.
Esse registro um tanto longo que fiz, foi para pontuar que talvez tenha faltado oportunidade ou mesmo coragem aos nossos “heróis” do passado, em continuar a produzir o que realmente sabiam fazer, ou seja, música com qualidade, conteúdo, determinação, teatro e garra, que foram materializados em álbuns como, “Close To The Edge”, “Mirage”, “Thick As Brick”, “Foxtrot”, “Moving Waves”; “Trilogy”; “Historia Di Un Minuto”, “Atom Heart of Mother” e tantos, mas tantos outros álbuns, que seria impossível de escrever aqui, mas que a história da música fez o favor de registrar.
ALTAMENTE RECOMENDADO!!!!
Marillion:
Fish;
Mark Kelly;
Steve Rothery;
Pete Trewavas;
John Martyr;
Andy Ward;
01. Radio Announcement #1 0:26
02. Grendel 17:27
03. Radio Announcement #2 0:13
04. Garden Party Intro 0:29
05. Garden Party 6:49
06. Script For A Jester's Tear 8:55
07. Assassing Intro 0:30
08. Assassing 7:28
09. Charting The Single 5:14
10. Forgotten Sons Intro 0:40
11. Forgotten Sons 10:33
12. Market Square Heros 4:19
13. Margaret (incl. Jean Genie & The Web 6:35
14. He Knows You Know 5:36
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DEPOIMENTOS:
- Prezados Capitães e NavegantesResponderExcluir
Mano Véio....você na verdade não fez uma resenha sobre o Marillion, mas sobre um cenário pós anos 70 com o rock Progressivo.
De todas as bandas que você citou, somente o Marillion conseguiu a expressão mundial equivalente às grandes bandas dos anos 70, as demais, infelizmente sofreram da "Síndrome de Eloy", boas demais, mas pouca mídia e divulgação.
O Marillion da era Fisch pode ser perfeitamente identificado, como uma versão Genesis de Peter Gabriel dos anos 80. Se o Genesis de Peter Gabriel tivesse formado não no início dos anos 70, mas no início dos 80, seria exatamente igual ao som do Marillion de Fisch.
Os teclados de Mark Kelly tem nítida influência de Rick Wakeman, a Guitarra de Steve Rothery tem uma marca pessoal que é só dele, colocando-o como um dos mais versáteis e ecléticos guitarristas de rock Progressivo.
Não vejo Fisch como um clone ou imitador de de Peter Gabriel, mas um cantor, compositor, com criatividade e talento ao nível de Peter Gabriel.
A obra do Marillion da era Fisch é imaculada....Era exatamente aquilo que nós fãs do rock progressivo estávamos desesperadamente procurando nos apáticos anos 80.
O que aconteceu com o Marillion após a saída de Fisch, foi um efeito semelhante ao que aconteceu com o Genesis da fase Phil Collins....
Uma mudança gradativa e radical não apenas no som, mas nas características da banda. Isso de certa forma causou na maioria dos fãs, um certo desconforto, pois em um curto prazo de tempo, os grandes clássicos da era Fisch, foram sepultados.
Dessa forma, podemos definir que existiram dois Marillions...O Clássico de Fisch, e o Melódico de Steve Hogarth, que como bem colocado pelo Luciano, tem momentos muito bons, mas entre outros oscilam.....
Oscilam não porque são ruins, mas porque nós fans exigentes e por muitas vezes chatos ( e eu me incluo nesta categoria) não temos mais a parecência ou a boa vontade para ouvir na íntegra um álbum como Brave ou Marillion.com........ Melhor usar este tempo para ouvir os trabalhos da era Fisch.
PORÉM!!!!!!!!! Tenho a obrigação de registrar mais uma vez neste blog que o Álbum Marbles e sua versão ao vivo Marbles Live estão à altura das obras da era Fisch...
Parece-me que baixou alguma coisa na banda quando fizeram essa obra que os motivaram ou inspiraram a resgatar neste trabalho, de forma magistral alguma coisa que havia se perdido em 20 anos.....Talvez o fato deste CD ter sido financiado pelos próprios fãs tenha contribuído para isso...
Obra esta que está sim à altura do blog do Mano Véio, e dos exigentes ouvidos de todos os Capitães e Navegantes que circulam por essas ondas.
Isto posto....Parabéns pela resenha Mano Véio....Pois como não poderia ser diferente, elas sempre extrapolam a esfera musical...e essa talvez seja a maior contribuição desse Buteco!!!!!
A todos....do fundo do Meu coração
ABRAÇO.....FORÇA....SUCESSO!
The Ancient- Minha saga com o Marillion, é ambígua, bem contraditória.ResponderExcluir
Comprei o primeiro álbum deles, logo quando lançado no Brasil. Cheguei até a falar com o vendedor: poxa, em pleno anos 80, uma banda grava um disco com apenas 6 faixas. E eu não sou um purista progressivo. Aliás, nunca fui purista, de forma alguma,detesto isso!
Gostei bem mais ainda do segundo LP...
Já o terceiro, achei que deixava a desejar.
E comecei a sentir uma certa antipatia pelo Fish, achando que ele não passava de um imitador do Peter Gabriel, bem forçado. Achei engraçadíssimo, quando um crítico da revista Bizz, disse ao comentar sobre um dvd da banda, que o cantor do Marillion, cantava como se fosse um Peter Gabriel chorão rs. Concordei, lógico. rs
E , um dia, quando eu estava numa loja, a qual fazia minhas compras e trocas, o segundo álbum do Marillion começou a ser executado, a pedido de um cliente. Ao voltar a ouvir aquela introdução, com uma guitarra, creio que sintetizada, uma percussão , tipo tabla, e o vocal do Fish, tive uma recaída(rs). Voltei a gostar do Marillion.
Pra mim, a obra prima do grupo é o segundo disco, "Fugazzi". E esse álbum é o único, no meu modo de pensar, em que o Marillion, foi, de fato, uma banda, porque nos outros, foram uma Fish Band. No "Fugazzi", cada instrumentista deu tudo de si, o que não escutávamos em outros álbuns com a presença do Fish. Genesis, na minha opinião, nunca foi uma banda do Peter Gabriel, como muitos dizem, mas o Marillion, foi, realmente, a banda do Fish.
E eu passei a gostar dele, do Fish, tenho até seus dois primeiros LPs solos. Ele foi um Peter gabriel chorão(rs), mas muito simpático. Tenho um vinil, coletêna, no qual, numa faixa ao vivo, ele apresenta um a um dos integrantes do Marillion, e esbanja uma simpatia impressionante!
Agora, o Marillion não chega nem aos pés do grande Genesis. Seus instrumentistas são bem comuns. Até mesmo Ian Mosley, um baterista que fez furor em outras bandas, se tornou um músico comum no Marillion.
Quanto a Steve Hogart, ele não tem voz de Peter Gabriel, tem uma voz própria. E "Seasonn' End", é meu segundo disco preferido o Marillion. "Univinted Guest" me arrepia, tanto a melodia, como a letra, e o vídeo também, numa grande interpretação de Hogart.
Gosto também do segundo disco com Hogart. Mas depois não acompanhei mais a carreira do grupo. - Meus amigos,ResponderExcluir
Com atraso de algumas semanas, vamos tentar dar prosseguimento às nossas conversas:
Luciano,
Eu tenho diversos álbuns do Marillion da era “Hogart”, mas confesso que não gosto muito.....
Eu conto nos dedos de uma das mãos, as músicas que ainda consigo escutar........
Em relação aos álbuns mais recentes eu nem faço idéia.....
O problema não é Hogart, que tem muito talento para a música pop, mas o que acontece é que o próprio Marillion, mudou seu rumo para fugir do pop de “Fish” e acabou por fazer o pop de Hogart, o que para mim não teve muito sentido........
Carlão:
Eu tenho procurado escrever textos bem curtos, que na maioria das vezes não tem como objetivo o álbum postado, mas serve de pretexto e com a pretensão de dirigir o assunto para uma seara mais abrangente e menos focada em um álbum ou um artista.....
O Marillion da era Fish, possui um acervo de músicas invejável e comparável ao que foi produzido por outras bandas da década de setenta, não só pela qualidade das composições, mas também pelo talento dos músicos.......
Você por diversas vezes já citou o ábum “Marbles” como sendo uma boa peça, mas ainda não tive coragem de escutá-lo com boa vontade e ainda têm um “Open Your Eyes” do Yes na frente...........
Grato pelas palavras, meu irmão.....
Roderick:
Que há muita semelhança no estilo de cantar entre Peter Gabriel e Fish, isto é inegável, mas com certeza, Fish têm muita personalidade e talento suficiente para se manter......
Quando Fish saiu do Marillion, a banda não perdeu apenas um excelente vocal, mas perdeu uma imensa legião de fãs que eram adoradores da voz e das performances de Fish no palco.....
Hogart tem qualidades sim, mas que ainda não me tocaram a ponto de me conquistar...... pode ser uma questão de tempo, tendo em vista que eu só passei a curtir o Led Zeppelin depois dos quarenta......
Um grande abraços a todos,
Gustavo- Porra.............Até que enfim!!!!!!! eu já tava no maior tédio.......Cê chega no buteco, pede uma, pede duas e cadê os caras??????ResponderExcluir
Mano Véio........É exatamente o que eu disse...O Hogarth é legal, tem bom vocal, é afinado, mas a formação do Marillion com ele sofre desse mal que você e eu citamos...Falta boa vontade para ouvir....Mas realmente, eu me rendi ao CD Marbles...Principalmente a versão ao vivo....
Quanto ao Open Your Eyes, eu realmente estou curioso para ler sua resenha....Você tem um CD do Yes que está no lacre...Hahahahahahaha....
Cê falou um troço interessante Mano Véio....eu descobri os Ramones depois dos 40....
Abraço a todos
The Ancient - Carlão,
Eu faço um puta esforço para gostar da banda com o S. Hogart, mas confesso que é difícil....
E não é por falta de esforço, pois eu tenho pelo menos uns oito álbuns desta segunda fase do Marillion, mas nem assim eu me animo em perder tempo em escutá-los.....
Acho que no final de semana eu turo o lacre do cd e escuto este álbum (Open Your Eyes) que já ta virando um dramalhão mexicano... hahaha
Pois é bicho, o Led Zeppelin é tardio para mim e eu carrego todos os álbuns no telefone e escuto quase diariamente....
Recentemente eu adquiri o blu-ray deles, "Celebration Day" que é de 2007 e mesmo com toda a idade que eles estavam, ainda tocam demais e deixam a platéia em êxtase.... o show é muito bonito e o filho de J. Bonham, o Jason, não nega a filiação e deu um show na bateria.... esse show vale muito a pena ser visto.....
Abração,
Gustavo
Achei muito pop o som mas tinha uma música aqui e outra ali que "passavam" e tinham ainda algum valor. Mas apesar de ouvir muitos internautas dizerem que a fase com Steve Hogan é boa também, nunca tive tanto amor a banda assim que me fizesse escutar todo esse material com esse cara cantando.
Em 1997 fui num show do Mariliion em BH e foi um puta show para mim por terem tocado vários clássicos do Marilion era Fish. Mas atualmente os caras praticamente limaram quase que completamente do repertório as músicas com o Fish... Aí não animei em ir nessa última apresentação.
O que vocês pensam sobre o Marillion pós Fish?
Abraços
Luciano