Como a Internet é muito generosa e guarda surpresas muito bem escondidas, bastando apenas procurá-las com atenção, eu por um mero acaso, acabei por me deparar com um bootleg chamado “Mutinae” do Pink Floyd, gravado em setembro de 1994 em Modena na Itália, obviamente sem a presença de Roger Waters, que a esta época, já havia abandonado a banda.
O Pink Floyd é um raro caso de uma banda ter sido sua própria substituta, apenas modificando sua maneira de se apresentar, mas principalmente modificando no modo de compor suas músicas e canções em relação ao seu passado recente.
Diferentemente de bandas como Yes, Genesis, ELP e outras, que de alguma forma tiveram suas estruturas internas modificada pelo entra e sai de músicos, mesmo assim, mantiveram a sua essência criativa e suas apresentações na mesma linha por algum tempo e como estamos nos referindo a bandas nascidas na década de setenta, não foi incomum ver seu “modus-operandi” mesmo que de forma bem discreta, aderir às novas ordens musicais, até mesmo por questões de sobrevivência e em alguns casos pela escassez de criatividade.
O Pink Floyd até antes da saída de Roger Waters quando se apresentava, naturalmente era mais visceral, pois contava somente com os quatros músicos, que tinham como principal arma, o talento e nada mais, sem o uso exagerado de parnafenálias eletrônicas e pirotecnias de palco.
Quando o Pink Floyd passou para a sua versão mais show e menos virtuosismo individual, e que fique bem claro que seus músicos remanescentes não perderam o talento, apenas passaram a usá-los de forma mais comedida, talvez até por conta da idade, mas isso não vem ao caso, um novo Pink Floyd surgiu, mais light, com músicos adicionais, backing vocals, pirotecnia de palco de dar inveja até na NASA e tudo mais que um show de rock tem direto hoje em dia, promovendo uma verdadeira re-engenharia musical, até mesmo para justificar a sua continuidade.
Se me perguntarem se eu acho que este novo formato ficou ruim ou a banda regrediu no tempo, eu acho que não, apesar de que eu valorize mais a questão técnica individual dos músicos, que nesta configuração evidentemente ficou em segundo plano, pois há espaço para a nossa atenção ser preenchida com outras distrações que não a música, mesmo assim, considero um excelente trabalho.
Sei que existe uma ala mais radical de fãs que repudia não só a saída de Roger Waters, bem como desconsidera esta nova concepção de ordem estrutural e musical instalada na banda após sua saída, e eu entendo, compartilho até com certa simpatia em alguns pontos, mas verdade seja dita e ela não é minha, foi fundamental para o rock, o racha dentro da banda, pois analisando alguns fatos históricos podemos chegar a algumas conclusões.
Roger Waters estava emocionalmente abalado e deprimido por conta de pensamentos e/ou visões que envolviam a morte de seu pai, e isto não é novidade para ninguém, e está claramente estampado no álbum “Final Cut” lançado em 1982, sendo considerado como o trabalho mais obscuro, indo além de “The Wall” e que só não se transformou em um álbum solo, pois os demais membros da banda participaram também de sua gravação apenas como músicos, uma vez que letra e música, são todas de Roger Waters.
No fundo, sua saída promoveu uma revolução dentro e fora da banda, pois se por um lado, passamos a identificar um novo Pink Floyd, por outro, passados alguns anos, Roger Waters surgiu “curado???” de sua loucura, lançando excelentes álbuns solo, promovendo shows épicos (vide “The Wall” em Berlim, 1990) e que até hoje envolvem centenas de músicos; técnico; atores; muita pirotecnia e eletrônica aplicada às músicas, com toda a “Pompa e Circunstância” que ele tem de direito, pois mesmo sendo um louco, sempre foi e sempre será um gênio.
No final das contas, os maiores ganhadores fomos nós, pois por muito tempo houve certa disputa de público entre o Pink Floyd e Roger Waters, o que os obrigou a investir em música e tecnologia, mas que graças aos bons Deuses da Música, agora todos estão em paz, com planos de um show conjunto, pelo menos ao que parece, mas infelizmente se acontecer, será desfalcado de “Rick Wright” que nos deixou órfãos de seu talento e carisma em setembro de 2008, mas isto faz parte da vida e temos que aprender a lidar com isto.
Voltando ao bootleg, “Mutinae”, faço apenas algumas considerações, pois seu elenco de músicas é mais do que conhecido, pois são todas do gosto popular, com direito a “The Dark Side of the Moon” na íntegra e demais músicas de álbuns mais contemporâneos como “The Divison Bell” e “A Momentary Lapse of Reason” e algumas poucas preciosidades mais antigas extraídas de “Meddle” e “The Wall”, com um áudio claro e cristalino, beirando a perfeição, ou seja, está recomendado por estas e outras razões não mencionadas, mas certamente por sua origem e berço de ouro.
ALTAMENTE RECOMENDADO!!!!
Pink Floyd:
David Gilmour Nick Mason
Richard Wright
Guest Musicians:
Tim Renwick
Jon Carin
Gary Wallis
Guy Pratt
Dick Parry
Durga McBroom
Sam Brown
Claudia Fontaine
Tracks:
CD 1
1. Intro
2. Shine on You Crazy Diamond (Pt.1)
3. Learning to Fly
4. High Hopes
5. Take It Back
6. Coming Back to Life
7. Sorrow
8. Keep Talking
9. Another Brick in the Wall (Pt.2)
10. One of These Days
CD 2
1. Speak to Me
2. Breathe in the Air
3. On the Run
4. Time
5. The Great Gig in the Sky
6. Money
7. Us and Them
8. Any Colour You Like
9. Brain Damage
10. Eclipse
11. Wish You Were Here
12. Comfortably Numb
13. Run Like Hell
LINK
"High Hopes"